O PROJETO ORIGINAL DO REINO DE DEUS
Texto Áureo: Mt. 6.33 – Leitura Bíblica: Mc. 4.1-3,10-12; Lc. 17.20,21
Pb. José Roberto A. Barbosa
Twitter: @subsidioEBD
Objetivo: Ensinar aos alunos que o Reino de Deus consiste em uma vida de amor, justiça, devoção, paz e alegria no Espírito Santo.
INTRODUÇÃO
Iniciamos mais um Trimestre na Escola Bíblica Dominical. Estudaremos a respeito da Missão Integral da Igreja. Teremos a oportunidade de aprendermos sobre a igreja no contexto do Reino de Deus. Na lição de hoje mostraremos algumas das diversas interpretações do Reino de Deus e sua fundamentação bíblica no Antigo e Novo Testamento. Esse é um tema importante a ser estudado, considerando que o Reino de Deus constituiu-se na mensagem central de Jesus (Mc. 1.14,15; Mt. 4.23; Lc. 4.21).
1. REINO DE DEUS: INTERPRETAÇÕES
Ao longo da história do pensamento teológico surgiram diversas interpretações em relação ao conceito de Reino de Deus. De Agostinho até o período da Reforma Protestante predominou a interpretação de que o Reino de Deus estava circunscrito à Igreja. Depois desse período, a concepção de Reino passou a ser ampliada. Os estudiosos da Bíblia depois da Reforma assumiram que a Igreja constitui o povo do Reino, mas não pode ser identificada com o Reino. Na perspectiva liberal, Adolf Harnack defendia que o Reino de Deus é totalmente apocalíptico, algo que está sempre porvir. Enquanto outros, de tendência mais existencialista, enfatizaram o Reino de Deus como algo meramente experiencial, isto é, uma identificação religiosa do indivíduo com o Reino. Um dos defensores desse ponto de vista foi Rudolf Bultmann, considerando que o verdadeiro significado do Reino deveria ser compreendido em termos de proximidade e exigência de Deus. Johannes Weiss associa o Reino de Deus com os apocalipses judaicos. Para ele, o Reino somente se dará no futuro, quando Jesus reinar sobre a terra. Esse pensamento também foi assumido por Albert Schweitzer que a interpretou em termos escatológicos. Para C. H. Dodd, o Reino de Deus é descrito em linguagem apocalíptica, mas que adentrou a história através da missão de Jesus. Em Cristo tudo o que havia sido profetizado se concretizou na história, assumindo uma “escatologia realizada”. W. G. Kümmel entendeu que o significado primário do Reino de Deus é eschaton – a nova era, análoga à do apocalipse judaico. Contrário ao pensamento da “escatologia realizada” de Dodd, Joaquim Jeremias propôs uma “escatologia em processo de realização”. Para ele, a mensagem de Jesus a respeito do Reino de Deus e seus milagres irromperam na história, mas é preciso aguardar a manifestação plena desse Reino. A tendência bíblico-teológica comumente assumida nesses últimos tempos, inclusive pelas alas dispensacionalistas, é a de que o Reino de Deus (e dos Céus) é algo em processo, uma tensão entre presente “o já” e o futuro, o “ainda não” (I Jo. 3.2).
2. O REINO DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO
Ainda que a expressão “Reino de Deus” não ocorra no Antigo Testamento, ela é pressuposta em toda a mensagem profética. O Antigo Testamento está repleto de alusões à soberania real de Deus, existem várias referências que o caracterizam como Rei de Israel (Ex. 15.19; Nm. 23.21; Dt. 33.5; Is. 43.15) e de toda a terra (II Rs. 19.15; Is. 6.5; Jr. 46.18; Sl. 29.10; 99.1-4). Algumas referências apontam para o dia em que Ele governará sobre o povo (Is. 24.23; 33.22; 52.7; Sf. 3.15; Zc. 14.9). De tais passagens concluímos que Deus é “já” Rei, mais chegará o momento em que Ele finalmente “se tornará” Rei, ou melhor, manifestará a Sua glória real ao mundo. A linguagem profética aponta para uma revelação plena de Deus na história, quando o projeto original de Deus, em relação ao Seu Reino, será concretizado completamente. O Reino de Deus é uma esperança, pois o Senhor, no final dos tempos, manifestará Sua soberania sobre todas as nações. Na literatura rabínica, o conceito de Reino de Deus também tem uma conotação apocalíptica, enfatizando a esperança pela sua concretização plena. Nos livros apócrifos de Enoque e Salmos de Salomão a ênfase é posta exclusivamente no futuro, distanciando-se do sentido de atuação de Deus no presente. Essa tendência judaica tende ao pessimismo em relação ao tempo presente, resultando, às vezes, em escapismo. Os adeptos dessa perspectiva acreditam que resta a este tempo presente somente sofrimento e aflição, a glória somente se revelará no futuro, já que a era presente estaria entregue aos poderes malignos. Esse mesmo pensamento era partilhado pela Comunidade de Qumran, que aguardava a descida dos anjos, que se juntariam aos “filhos da luz” para a luta contra os inimigos, “os filhos das trevas”. Para os Zelotes, líderes judaicos radicais do Primeiro Século, o Reino de Deus deveria ser imediato, resultado de uma intervenção armada.
3. O REINO DE DEUS NO NOVO TESTAMENTO
O Reino de Deus no Novo Testamento é expresso pelos teólogos a partir da expressão grega “basileia tou theou”. O termo grego basileia (Reino) está relacionado ao hebraico malkuth que aponta para o futuro (eschaton) que tem o sentido de reino, domínio ou governo. Por isso, na oração do Senhor, pedimos ao Pai pela vinda do Reino, isto é, para que a vontade de Deus, Seu governo, seja feito na terra, que o Seu domínio se complete (Mt. 6.10). O Reino de Deus, conforme designado por Jesus para os seus discípulos, é uma “ordem de honra real”, isso porque onde estiver o Rei, ali estará o Reino (Lc. 22.29). O Reino de Deus, nas palavras do Senhor, é prioritariamente eschaton – futuro, mas também presente (Lc. 17.21). Para a Igreja Jesus já é o Rei, mas Ele precisa tornar-se Rei, essa é a temática do Novo Testamento (Fp. 2.10). A vinda plena do Reino de Deus consumará o fim da era presente e inaugurará a Era Vindoura. O final da Era Presente resultará no julgamento do Diabo (Mt. 25.41), a formação de uma sociedade redimida (Mt. 13.36-43) e a comunhão perfeita em Deus (Lc. 13.28,29). Isso poderia ter acontecido no tempo em que Jesus veio a terra, mas os judeus O rejeitaram, por isso, foi tomado pelos outros (Mt. 8.12), por conseguinte, os súditos do reino de Jesus são aqueles que aceitam a Sua palavra (Mt. 13.38). Para esses, o Reino de Deus é uma realidade presente, pois “é chegado a vós” (Mt. 12.28). Satanás continua ativo, ele subjuga os indivíduos, distanciando-os do Reino (Mt. 13.19). A vitória do Reino de Deus é espiritual, quando essa se completar acontecerá o triunfo final de Deus sobre o Inimigo (I Co. 15.25). Os fariseus quiseram saber de Deus quando o Reino haveria de se manifestar, o Senhor respondeu-lhes que este já se encontrava entre eles, ainda que não da maneira que eles aguardavam (Lc. 17.20,21).
CONCLUSÃO
O Reino de Deus é recebido dentro do ser humano, isso fica evidenciado em Mc. 10.15. A mensagem de Jesus se diferencia do judaísmo rabínico, pois Ele modificou a linha do tempo. A igreja, nesse contexto, vive entre duas Eras, a Era do Futuro, inaugurada pelo Cristo ressuscitado (Mt. 28.18), mas que foi invadida pelos poderes satânicos (II Co. 4.4; Ef. 6.12). No futuro, quando o Milênio for instaurado (Ap. 20.4-6), a Era Vindoura será iniciada (Ap. 21.2,3). No presente, os súditos do Reino vivem em amor, devoção, prazer, submissão, dever e gratidão (Rm. 5.5; II Co. 9.13; Lc. 18.1; Jn. 2.9). Esses põem o Reino de Deus em primazia (Mt. 6.33), e por causa do Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap. 19.6) passam por tribulações (At. 14.22).
BIBLIGRAFIA
LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Exodus, 1997.
LADD, G. E. O evangelho do Reino. São Paulo: Shedd Publicações, 2008.