quarta-feira, 10 de agosto de 2011


Leia entrevista exclusiva com o apologista cristão Charles Colson (EUA)

"O novo milênio apresenta-se como a primavera da evangelização, e temos de ser competentes para isso"
Charles Colson é o fundador e presidente do Prision Fellowship Ministries, uma entidade para-eclesiástica voltada aos encarcerados. Reconhecido no mundo evangélico pelo seu programa radiofônico Breakpoint, que tem influenciado milhões de pessoas nos Estados Unidos, ele é autor de mais de 15 livros, entre eles a célebre obra "E agora, como viveremos?, lançada em língua portuguesa pela CPAD e que logo na época do seu lançamento se tornou leitura obrigatória para os mestrandos do Seminário Batista do Sul do Brasil.

Em agosto de 1973, pouco antes de ir à cadeia por seu envolvimento no caso Watergate, quando era membro de um conselho especial do presidente norte-americano Richard Nixon, Colson aceitou Cristo como seu Senhor e Salvador. Ele confessa que se não fosse sua conversão, sua vida teria se arruinado naquele instante. A partir de então, tornou-se um ardoroso defensor da fé cristã e hoje é considerado um dos maiores apologistas cristãos da atualidade, tendo recebido em 1993 o Prêmio Templeton para o Progresso da Religião, concedido a lideranças notáveis pela originalidade no desenvolvimento da compreensão humana a respeito de Deus.

Esta entrevista foi publicada originalmente na revista "Resposta Fiel" da CPAD.

Quem é Charles Colson?
É alguém que está se esforçando para ser alguma coisa que Deus quer que ele seja. Esforço talvez não seja a palavra certa, porque estou confortável na minha fé e acredito na graça. Gostaria de ser completamente puro em minha própria vida, completamente santo. E gostaria de ajudar meus amigos a chegarem a esse ponto. Quero discipular outros, pregar o Evangelho nas prisões e ensinar a visão bíblica do mundo às pessoas.
Quem é Jesus para o senhor?
O Senhor. Ele é minha vida, mas precioso do que minha própria vida. Sou muito grato a Ele. Isso é interessante: eu me sinto mais íntimo de Jesus hoje do que antes e, ao mesmo tempo, mais apercebido dos meus próprios pecados. Isso é um grande paradoxo. Talvez esse seja o motivo pelo qual apóstolo Paulo se sentiu o maior entre os pecadores. Ele disse isso porque foi muito mal e mesmo assim pôde se converter, como qualquer pessoa pode. Essa é certamente a história da minha vida. Isso parece ser também uma prova de que você se aperfeiçoa na santidade quanto mais reconhece os seus pecados.
O senhor tem descrito o livro "E agora, como viveremos?" como “o mais significativo livro” de sua carreira de escritor. Por que e o que lhe motivou a escrevê-lo?
"E agora, como viveremos?" é o livro mais significativo que já escrevi porque, em minha mente, ele é a necessidade de uma visão de mundo bíblica, do entendimento de como o cristianismo afeta tudo na vida. A ausência disso resulta na igreja sendo marginalizada ainda mais na sociedade. Muitos cristãos vêem o cristianismo como mera conversão pessoal ou uma experiência litúrgica, e perdem a visão do fato de que toda verdade é a verdade de Deus e de que a realidade é, por fim, encontrada em Cristo, o qual a Bíblia descreve como o Logos, que nos aponta o Plano da Criação.

Pensei sobre esse livro por 10 anos. Nancy Pearcey, minha co-autora, e eu começamos a escrevê-lo há mais de 10 anos, quando concebemos que essa mensagem era absolutamente crucial para apresentar um testemunho cristão vibrante no novo milênio. O novo milênio apresenta-se a nós como a primavera da evangelização, e temos de ser competentes para cumprir nossa missão. O crucial é justamente se os cristãos são ou não capazes de apresentar a visão de mundo que seja o meio mais razoável de ordenar nossas vidas, mais do que a proposta do secularismo natural. Por esta razão o livro.
No curso de sua discussão sobre o cristianismo como visão de mundo, você escreveu que “o princípio dominante da verdade cristã não é soteriológico (isto é, justificação pela fé), mas antes cosmológico (isto é, a soberania do triuno Deus sobre o cosmos, em todas as esferas e reinos, visíveis e invisíveis)”. O senhor poderia desembalar essa declaração para nós e explicar por que é importante para a igreja ouvir essa verdade no novo milênio?
Minha declaração de que o princípio dominante da verdade cristã, em sua essência, não é soteriológico, mas, antes, cosmológico, foi tomada diretamente de Abraham Kuyper. Ele entendeu que a soberania de Deus é o esteio da verdade da revelação bíblica. Kuyper, é claro, estava refletindo no poder da visão de mundo calvinista em face do que ele descreveu como a “revolucionária” visão de mundo que estava eclodindo em seus dias.

Salvação é, obviamente, o coração da mensagem cristã, mas se começarmos com a salvação, é como se estivéssemos abrindo um livro pelo meio. Primeiro devemos ver que o nosso Deus é o Criador do mundo, que o pecado foi introduzido no mundo pela desobediência e, por essa razão, a Redenção torna-se o meio pelo qual podemos ser restaurados para um direto relacionamento com Deus. Entender a Salvação divorciados de um entendimento da soberania de Deus operante no mundo – o fato de que Ele é o Deus da totalidade do cosmos – defrauda a mensagem bíblica, e essa pequena defraudação debilita terrivelmente a igreja, porque nos leva a tornarmo-nos obcecados apenas com a mera piedade pessoal e o nosso eterno modo de ser, e a ignorarmos todos os outros aspectos da vida cristã.
O senhor descreve a visão de mundo bíblica usando três pontos focais: Criação, Queda e Redenção. Gostaríamos que explorasse esses conceitos. Primeiro, qual o seu entendimento sobre a Doutrina da Criação?
Criação significa que Deus falou e todo cosmos veio a existir. O cristianismo proclama que Deus, eternamente existente em si mesmo, criou livre e graciosamente todas as coisas para sua glória, entre elas o homem, sendo este originalmente bom. Esse ponto está em total contraste com a crença cultural dominante de que “o cosmos é tudo que é ou sempre será” (dito famoso de Carl Saegan), que a vida surgiu como resultado de uma possível colisão de moléculas e que isso foi através de um impessoal e não supervisionado processo. O secularismo declara que apenas a matéria é eterna, e em qualquer das suas formas – incluindo a vida humana – e não há qualquer propósito que seja. Felizmente, a ortodoxia secularista está sendo rápida e seriamente desafiada pelos desenvolvimentos científicos correntes.
O que quer dizer com a Queda?
Adão e Eva, que foram pessoas reais da História, desobedeceram a Deus. Deus criou o mundo, que era bom e perfeito, mas nos deu a liberdade de escolha, e pelo exercício dessa liberdade de escolha desobedecemos a Deus e introduzimos o pecado no mundo. Esse pecado original torceu e distorceu a condição do homem depois disso. Esse ponto está em total contraste com a moderna crença na bondade do homem, a noção adotada pelos pensadores do iluminismo. Isso tem levado a utopias de todas as maneiras, que no século 20 trouxeram todo tipo de tirania, morte e destruição ao mundo, assim como a erosão da responsabilidade pessoal nas sociedades ocidentais. Não há nada mais doutrinariamente pernicioso do que o moderno endeusamento do utópico.
Qual é a usa visão de Redenção?
Em Cristo somos feitos novos e os nossos pecados são perdoados. Esse é um entendimento radical. Deus deu seu Filho na cruz para pagar o preço da desobediência. O que foi extraordinário para mim na preparação desse livro foi a percepção cada vez maior de que somente a visão de mundo bíblica oferece uma satisfatória explicação e resposta ao dilema humano do pecado e do sofrimento. Nenhuma outra visão de mundo oferece redenção da maneira que a visão de mundo cristã o faz. Cristo redime a pessoa completamente, não somente sua alma, e dirige tudo à reconciliação, à volta para Deus.
O senhor escreve que a igreja deve pensar sobre como transformar todos os ramos da cultura. Vamos, por exemplo, olhar para a área da economia à luz dos pilares da Criação, Queda e Redenção. Primeiro, como deveríamos pensar a economia à luz da Criação?
Deus criou o mundo perfeito. Os primeiros humanos viviam no Paraíso e receberam um mandato cultural, a tarefa de cultivar o solo. Eles receberam também mandatos intelectuais, nomeando os animais. Nesse sentido, Deus teve cinco dias  para criar o universo, e no sexto dia criou o homem e nomeou-o seu agente para dar seguimento às coisas. Bem, vejamos o caso da economia. A economia, do grego oikonomia, entendido pelo aspecto criacional, seria sempre carregada pela perfeita vontade de Deus, no desenvolvimento de sua criação, para mais altos estágios da bondade. Isso obviamente colocaria um alto valor sobre o trabalho e a busca econômica seria direcionada a promover o plano de Deus pela procura em trazer sua bondade a todos os aspectos da vida. Deus nos criou para vivermos completamente uma comunidade harmoniosa na qual trabalharíamos para receber os bons benefícios que Ele planejou para nós, e isso através do fiel e diligente exercício de nossas habilidades em nossa própria esfera para o benefício de todos.
E sobre a Queda?
A Queda abraçou todas as coisas, incluindo a criação divina. Deus proclamou a maldição na Terra. A harmonia do relacionamento divino com a criação foi destruída. Deus entrou em aliança com os homens, por meio do que ele determinou renovar tudo por si mesmo e colocá-los de volta ao curso de serem canais das suas bênçãos ao mundo.
Qual a perspectiva redentiva para a economia?
Como parte da Aliança, Deus prescreveu a Lei para o seu povo. Sua Lei seria a base da nova sociedade na qual o homem, tendo sido resgatado do cativeiro pela graça de Deus, viveria em graça e verdade, em gratidão a Deus e de acordo com seus estatutos. As decisões e aspectos econômicos do homem hoje são claramente um reflexo do seu padrão de justiça num mundo caído. Propriedade privada é para ser respeitada. Note que dois dos dez mandamentos têm que ver com propriedade privada. O requerimento de restituição é encontrado em Êxodo 21 e 22, refletindo uma alta consideração à preservação da propriedade privada assim como à dignidade pessoal. Ao mesmo tempo, tinha que haver justiça social. Donos de terra deveriam reservar uma porção da sua colheita (chamada respiga) para os pobres. Salários justos devem ser pagos, e balanças justas são para ser mantidas na praça do mercado. O pobre e o necessitado devem ser protegidos da opressão e os industriais fiéis, ser recompensados por seus trabalhos. Assim, no Antigo Testamento, vemos o modelo do plano divino para a economia.

Por meio da Redenção, somos restaurados para nosso estado de pré-queda, embora imperfeitamente. Isso não significa que não continuaremos experimentando as conseqüências da queda, mas isso significa que nosso mandato para comissão cultural ser-nos-á restituído. Então estamos trabalhando para glorificar o Senhor e sustentar seus justos critérios. Se os cristãos são instrumentos da justiça, devemos trazer a verdade moral para as relações econômicas. O fato é que essa economia no mundo caído não pode ser justa sem que ela seja balanceada com o entendimento bíblico de moralidade. Por isso os cristãos desempenham uma posição vital na formulação de policiamento na sociedade. Uma “economia bíblica” só irá suceder quando isso for procurada pelo homem redimido, homem que ama a Deus supremamente e a seus vizinhos como a si mesmo.

Em sua opinião, qual é a grande crise da igreja de hoje?
Individualismo. A idéia de que posso fazer todas as coisas. Atualmente, seria mais acertado dizer “aculturação”. A cultura é radicalmente individualista. Pessoas fazem tudo que querem. A igreja, em contraste, é autoritária. Isso é o que significa quando falamos sobre a autoridade das Escrituras. Mas as pessoas continuam a ser radicalmente individualistas nas suas igrejas. O resultado é que escolhem e optam pelas igrejas que irão membrar-se, acreditando no que querem. Falta sempre o entendimento da responsabilidade de ser parte da comunidade dos crentes. A maioria das pessoas que se sentam nos bancos de igreja perdeu totalmente esse ponto e temos de dar-lhes doses suportáveis de realidade. Isso é difícil de fazer porque pode custar-nos membros.
Fonte:CPADNEWS

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